quarta-feira, 1 de setembro de 2021

78º 2.20 e 3.20 - MÓDULO 6: O EFEITO

PRÁTICAS DE PRODUÇÃO DE TEXTO 


IV. PROCEDIMENTOS E ATIVIDADES

Neste módulo pretendemos estudar, de modo especial, o efeito. Ele não deixou de aparecer nos módulos anteriores, porque o efeito sempre está ligado a uma causa (causa real, condição ou concessão, como vimos nos módulos 3, 4 e 5).

Vamos recapitular primeiro o que se entende por efeito. A relação de causa e efeito é sempre uma relação estabelecida pelo nosso raciocínio, a que podemos ser levados pela linguagem.    

Temos aí uma notícia de três fatos. E a nossa língua avisa:      

Vejamos um exemplo: 


Chovendo durante 15 dias , o rio transbordou , alagando a planície.

              1º fato                       2º fato                 3º fato.

             Fato anterior           Fato principal     Fato posterior.

               Fato reduzido          Fato pleno         Fato reduzido


O fato pleno é aquele que poderia aparecer sozinho, possuindo um sentido completo, pois alguém poderia dizer apenas isto: 

O rio transbordou.



Mas ninguém pode contar a um uma outra pessoa um fato reduzido, pois o sentido fica incompleto.

É impossível que o texto seja apenas:                 

Chovendo durante 15 dias...

Ou: alagando a planície.


CONCLUSÃO 

Conhecemos o fato principal, por estar enunciado como fato pleno. E reconhecemos os dois outros fatos pela ordem: o que vem escrito antes do fato principal é um fato anterior: a chuva começou antes de o rio transbordar; o fato que está escrito depois do fato principal é o fato posterior: a planície ficou alagada depois de o rio começar a transbordar.



O mesmo procedimento é válido, quando tivermos notícias de dois fatos:


 Choveu durante 15 dias, o transbordando o rio.

  Fato pleno                        Fato reduzido

  Fato principal                      Fato posterior


Quem fala desse modo, deve estar mais interessado na chuva do que no transbordamento do rio.


Transbordando o rio, a planície ficou alagada.

  Fato reduzido                    Fato pleno

  Fato anterior                      Fato principal


Quem fala desse modo, há de estar mais preocupado com o alagamento da planície do que com a cheia do rio.


Chovendo durante 15 dias, o rio transbordou

            Causa                         Efeito


Não é a nossa língua que diz que a chuva é a causa do transbordamento do rio ou que o transbordamento do rio é o efeito (a consequência) da chuva. Essa relação entre os dois fatos só é descoberta pelo raciocínio que compara os dois fatos, relacionando a chuva com a enchente.

E essa mesma relação da causa e efeito continua, se eu mudar a linguagem (mas o raciocínio não muda):


Chovendo durante 15 dias, o rio transbordou

            Causa                         Efeito


Observe bem, com os exemplos do início (fato principal, fato anterior ou posterior), que a linguagem mudou, mas não mudou o raciocínio.


A nossa língua pode exprimir a causa, como aprendemos no módulo nº 3:

O rio transbordou, porque (visto que etc.) choveu durante quinze dias.

Justamente, porque a causa está indicada pela linguagem, é que podemos colocar os dois fatos em ordem inversa, falar da chuva depois do transbordamento do rio. Pois, se a chuva é a causa, tem que ser necessariamente um fato que tenha começado antes, tem que ser um fato anterior.



Já que a linguagem avisa que é a causa, podemos, também na linguagem, inverter os dois fatos:

O rio transbordou, já que choveu durante quinze dias.

Vamos comparar com o nosso raciocínio a relação entre os dois outros fatos:

O rio transbordou, alagando a planície.
      Causa                   Efeito
Transbordando o rio, alagou a planície.
      Causa                   Efeito

Resultado: Novamente, nos dois exemplos: Mudou a linguagem, mas não mudou o raciocínio.
Se colocarmos os três fatos em uma só notícia e deixarmos trabalhar o nosso raciocínio, o que descobrimos?

Chovendo durante 15 dias, o rio transbordou, alagando a planície.



O fato principal “o rio transbordou”, uma vez é efeito, e uma vez é causa: é efeito em relação à chuva; é causa em relação ao alagamento. Mas nada em nossa linguagem indica que a expressão “o rio transbordou” seja efeito ou causa.
Por conseguinte, é preciso distinguir nitidamente entre o que seja expressão (e está na nossa boca ou nos nossos ouvidos = linguagem oral; ou está no papel e nos olhos = linguagem escrita) e o que seja raciocínio (o que está em nossa mente, em nosso cérebro).
Repetimos, assim, que a nossa língua pode indicar a causa, ou seja, pode expressar a causa.

E aprendemos:  a causa real – no módulo nº 3;
a causa desconhecida ou irreal (condição) – no módulo nº 4;
a causa contrariada ou negada (concessão) – no módulo nº 5.

Expressão da condição:       
Se o rio transbordou, a planície ficou alagada.
Expressão da concessão:     
Embora o rio transbordasse, a planície não ficou alagada.

Pedido de desculpa: Prezado colega, por favor não leve a mal o fato de insistirmos neste assunto, desde que falamos em causa pela primeira vez. É que você precisa ter uma noção muito clara que raciocínio e linguagem são ou, pelo menos, podem ser coisas diferentes. A imensa maioria das pessoas pensa que linguagem e raciocínio são a mesma coisa. Que engano... o nosso problema é saber ou aprender como é que vamos colocar o nosso raciocínio em expressão verbal, ou seja, como apresentar na linguagem; uma vez que a linguagem é apenas um instrumento do raciocínio. Ler, portanto, significa extrair da expressão mais do que ela diz: é compreender até o que não está escrito. Escrever, ou melhor, redigir é encontrar uma forma de expressão que revele o nosso raciocínio, fazendo com que os nossos leitores possam extraí-lo com maior facilidade.

A linguagem traz à nossa mente os fatos, ou melhor, a lembrança, a ideia, os conceitos... e a nossa mente os compara, tirando suas próprias conclusões.
A palavra chuva não traz a “chuva”, ou seja, não faz chover - numa grande seca, seria uma beleza! -. Entretanto, a linguagem não é mágica... a palavra chuva apenas traz à nossa mente a lembrança da “chuva”.



Ao estudarmos, nos três módulos anteriores, a causa, a condição e a concessão, indiretamente, apresentamos o efeito, e ressaltamos o efeito na causa e na concessão. 
Veja os exemplos:   
Com a causa: A planície ficou alagada, porque choveu. (C)
Ressaltando o efeito: Choveu; por isso, a planície ficou alagada. (E)
A expressão por isso significa “choveu” ou “porque choveu”.
José foi aprovado, porque estudou. (C)
Ressaltando o efeito: José estudou; por isso, foi aprovado (E)
A expressão por isso, agora, significa que “José estudou”.
Com a concessão:                  
Embora chovesse muito, a planície não ficou alagada. (E)
Ressaltando o efeito:   
Choveu muito e, apesar disso, a planície não ficou alagada. (E)


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